Cervejas especiais ganham espaço e conquistam cuiabanos


Consumidores desse tipo de bebida priorizam a qualidade, e não a quantidade



Beber menos cerveja, mas beber melhor, é a filosofia dos apreciadores de cervejas especiais

O cuiabano tem a fama de beber bastante cerveja, uma das bebidas alcoólicas mais populares e democráticas que existem. Mas, há alguns anos, tem crescido o número de adeptos de uma filosofia de bar e de vida - diferente: beber menos, mas beber melhor. Em outras palavras, mais qualidade, menos quantidade.

Esse é o lema dos apreciadores das chamadas cervejas especiais, tanto nacionais quanto importadas, mercado que tem ganhado cada vez mais adeptos na capital mato-grossense.

"Eu não vendo cerveja, eu vendo cultura"

Prova disso está no aumento, percebido nos últimos 2 ou 3 anos, no número de lugares onde se vende cervejas desse tipo e também na quantidade de espaços disponíveis atualmente para degustá-las.



Um deles é a franquia Mr. Beer Cervejas Especiais, localizada no Pantanal Shopping Center, que tem entre 140 e 150 rótulos de cerveja, com preços entre R$ 8 e R$ 700.

“É uma procura crescente, tanto para homens quanto para mulheres. E me surpreendi com o público jovem, porque não esperava vender muito pra eles”, diz Márcio Nascimento, de 37 anos, que assumiu a franquia em fevereiro de 2012.

Ele ressalta que trabalhar com esse tipo de produto é desafiador. “É um trabalho, acima de tudo, cultural. Eu não vendo cerveja, eu vendo cultura. Preciso explicar de onde veio, como foi fabricada”, afirma o sommelier de cervejas.

A “aula” também minimiza a comparação financeira das especiais das comuns. “Enquanto pagam-se R$ 2,50 em um supermercado, aqui ele vai pagar R$ 20, R$ 30, em média”, diz Nascimento.

O preço justifica a qualidade do produto. As cervejas especiais são feitas com maior quantidade de ingredientes e com mais cuidado na preparação, e se resumem a basicamente dois tipos (Lagers e Ales), mas com mais de 100 estilos diferentes.

Temperatura e copos

A temperatura em que são servidas as cervejas especiais pode causar estranheza para quem está acostumado ao tradicional “estupidamente gelada”.

O ideal é variar entre 10ºC e 0ºC, o que permite sentir bem o sabor da bebida. Abaixo disso, anestesia as papilas gustativas, o que baixa a percepção dos sabores.



Os bebedores de cerveja especial afirmam que as cervejas comuns são consumidas bem geladas para disfarçar o sabor ruim.

Os copos também são parte fundamental na hora de tomar uma bebida especial, tanto pelo aspecto visual quanto pela parte olfativa da degustação. Os do tipo americano são ideais para as pilsen, que são menos aromáticas.

Já os pint, tradicionais dos pubs, são mais estreitos no fundo e mais largos na boca, valorizando a espuma. Copos com a boca bem larga são adequados para a cerveja trapista, consideradas complexas, para que o consumidor possa ter uma percepção aromática maior do que está bebendo.

Os consumidores

A curiosidade é o motiva os bebedores de cerveja comuns a migrarem para as cervejas especiais. É o caso do hairstylist Lourival Lemes Sant’Ana, de 38 anos, que virou adepto desse tipo de produto há três anos.

Em Cuiabá, ele conta que começou com as de trigo, mais fáceis de encontrar na cidade.

“Até que, em São Paulo, experimentei uma cerveja especial inglesa e não parei mais”.
Sant’Ana também conta que, desde então, bebe menos. “O bebedor de cerveja especial não bebe pra encher a cara. Ele bebe pelo prazer de beber”.

Ele já fez degustações com as palestras realizadas no Empório Serra Grande, seu local favorito para tomar cerveja em Cuiabá, com 246 rótulos de cervejas, sendo 60% importadas e 40% nacionais.

Tudo começa pelo prazer de tomar cerveja"Assim como outros adeptos desse tipo de bebida, ele defende a tese de que a tendência é que os consumidores deixem de lado, aos poucos, as cervejas comuns.

“A gente vai lapidando o paladar. Eu não gosto muito, mas, para fazer o social, e não me passar por chato, levo algumas cervejas ‘toleráveis’ quando vou a algum churrasco, por exemplo”.

Nascimento concorda. “Não critico quem consome as cervejas comerciais, mas eu não gosto mais. E acho que, à medida que a pessoa bebe as especiais, começa a deixar as comuns de lado”.

Pilsen polêmica

E quem entende do assunto torce o nariz para muitas cervejas que se autointitulam Pilsen, que fazem parte do tipo Lager, figurinhas fáceis em bares, mercados, distribuidoras e restaurantes. E as mais vendidas no mercado brasileiro.

“Na verdade, são Standard American Lager, um estilo com arroz e milho. É um estilo de cerveja também, mas não é Pilsen. As primeiras desse tipo surgiram na República Tcheca e são puro malte, saborosíssimas”, explica Nascimento.

Os "fabricantes"

E há aquelas pessoas que ultrapassam a paixão pela degustação e se arriscam a fabricar cerveja, um processo que pode demorar de 3 a 7 dias. Estima-se que entre 25 e 30 pessoas fazem a bebida em Cuiabá, conforme a Associação Mato-grossense dos cervejeiros artesanais de Mato Grosso (Acerva-MT).

O graduando em Farmácia Alessandro Senatore, de 35 anos, é um deles. Ele começou a fazer cerveja em agosto do ano passado, após fazer o curso de Iniciação Técnica Cervejeiras Artesanais, no ArtBrew, em Campinas (SP) e começou a pesquisar sobre o tema.

"Fazer cerveja em casa não é fácil"

Depois, comprou os equipamentos – caldeirões, termômetros, densímetro, proveta, moinho de cereais, geladeiras. No total, montar a “mini-fábrica” custou cerca de R$ 3 mil.

A primeira vez não saiu exatamente do jeito que queria. “Fazer cerveja em casa não é fácil. Queria um tipo, belga trapista simples, mas acabou saindo uma IPA [India Pale Ale]. Mas era cerveja”, conta.

Ele conta que os ingredientes básicos da cerveja são agua, malte, lúpulo e levedura. Mas ele já preparou receitas com vários ingredientes, como uma que levou cacau em pó, pimenta dedo de moça, gengibre, melaço de cana e zimbro.

O farmacêutico e estudante de Medicina, Juan Pagnussati, de 24 anos, presidente da Acerva-MT, começou a fazer cerveja em casa em 2011, também por curiosidade. Desde então, já foram quase 30 levas da bebida, preparadas com a ajuda dos amigos ou da namorada.

Ele diz que o grupo se reúne de vez em quando para trocar dicas sobre o consumo e o preparo. Em comum, o gosto pelo líquido. “Tudo começa pelo prazer de tomar cerveja”, conclui.

Fonte: MidiaNews/Carolina Holland

Um comentário:

Ivo disse...

Também , estão vendendo cerveja nacional com agua desde que virou multinacional na mão do Paulo Lehman. La na america do norte , a Bud esta sendo processada por isso.