Aos 81 anos, Renato Aragão não é chegado às tecnologias. Ri pouco das piadas que lhe passam por "whatszapa" e já até viu a filha e a mulher fazendo o "webchat" (Snapchat). Nem mesmo o meme da trágica história que costuma contar, do menino que perguntou se "no céu tem pão", ele sequer ouviu falar. "Como é, menino? M&M's? Já comi muito, mas não posso mais".
Renato recebeu a reportagem do UOL com bom humor em seu camarim, em uma quarta-feira chuvosa e caótica do Rio de Janeiro, na bucólica Quinta da Boa Vista, zona norte da cidade. É de lá, mais precisamente no set montado no picadeiro real da Unicirco, que ele retoma suas aventuras no cinema. O mesmo que o fez largar o curso de direito do Ceará nos anos 1960.
Para a volta, ele investiu no resgate de "Os Saltimbancos Trapalhões", uma das histórias mais célebres e populares de sua filmografia com Os Trapalhões, que soma 120 milhões de espectadores.
A continuação do longa de 1981 promete as mesmas canções de Chico Buarque (com direito a uma inédita, "Amor Natural") e um tom ligeiramente mais moderno. Com produção da Mixer e direção de João Daniel Tikhomiroff ("Besouro"), o filme aposta em um luxuoso olhar à vida mambembe do circo, e em personagens mais contemporâneos. Letícia Colin, por exemplo, viverá a mocinha Karina, mais rebelde do que na versão original de Lucinha Lins.
Adaptado do musical de Charles Möeller & Claudio Botelho, "Os Saltimbancos Trapalhões 2 - Rumo a Hollywood" terá, no entanto, o mesmo Didi de sempre, com um olhar cada vez mais melancólico de Chaplin do que a alegria ingênua e sacana de Oscarito (sua inspiração até hoje). "O público não quer que o Didi mude. Se eu mudar para um Didi mais sofisticado, acabou", defende o criador, que, como sua criatura, foge de comentários políticos. "Se eu o pudesse definir, diria que ele é um sonhador. Ele sonha em ser feliz, como todo brasileiro".
O elenco traz Alinne Moraes, Marcos Frota, Maria Clara Gueiros e Emílio Dantas, mas não faltam os antigos companheiros Dedé Santana e Roberto Guilherme (o imortal Sargento Pincel). "Eu assisto o humor de hoje e acho engessado. Não tem aquela descontração, o humor livre", reclama.
Depois de ter passado por uma angioplastia em 2014, devido a um infarto sofrido, Renato voltou com a cabeça fervilhando. Guarda duas ideias de filme e um projeto para voltar à TV no ano que vem. Por enquanto, ele assiste às próprias esquetes dos anos 2000, atualmente reprisadas no canal Viva, e chega à uma conclusão: "Eu gostaria de ser o Didi [na vida real], mas não posso. Sou retraído, tímido. Três pessoas para mim já é uma multidão. Didi não, ele quer andar livre na rua".
FONTE: Uol/Entretenimento
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